BIOGRAFIA MORIYAMA

Ensho

BIOGRAFIA MORIYAMA

by Ensho, março, 03 2017

Daigyo Moriyama Roshi Sama nasceu em 29 de março de 1938, no extremo norte do Japão, na ilha de Sakhaline. Graduou-se em filosofia budista na Universidade de Komazawa, em Tóquio, em 1960. Treinou nos principais templos da tradição do Mestre Dogen Zenji, no Japão. É o fundador do Templo Zuigakuin em uma região montanhosa do Japão. Durante quarenta anos ministrou ensinamentos para monges, discípulos e leigos, no Japão, Estados Unidos, França, Suécia, Ástria, Brasil, Uruguai e Argentina. É dado como desaparecido pelo governo japonês em julho de 2011.

Em 1962, com a idade de vinte quatro anos, recebeu de seu mestre Hakusan Kojun Roshi Sama a ordenação de monge Zen-budista. Em seguida é encaminhado ao Templo Superior Eihei-ji, localizado na área rural montanhosa de Fukui, para treinamento de prática monástica. Após o período de um ano é transferido para o Templo Superior Soji-ji, localizado na colina de Tsurumi em Yokohama, onde continuou sua preparação por mais cinco anos, incluindo o curso de habilitação em professor do Dharma, ao concluir a sua formação recebeu a transmissão de seu mestre, ainda muito jovem estava capacitado a exercer o ofício de um mestre Zen-budista.

Então, seu mestre o enviou para o honorável Renpo Niwa Zenji Roshi, Abade do Mosterio Eihei-ji, que o designou para desempenhar funções na Divisão internacional do Templo em Tóquio, ali permanecendo por dois anos. Em 1970, Renpo Niwa Zenji Roshi o transfere para América do Norte e passa a residir na cidade de São Francisco da Califórnia, para assumir o cargo de Sacerdote Chefe do Templo Soko-ji, mantido pela colônia japonesa, substituindo o lendário mestre Zen, Shunryo Suzuki Roshi autor do clássico livro “Mente zen mente de principiante”. Esse seria o primeiro encontro de Moriyama Roshi com o Ocidente. Como ele mesmo diz, foi um grande choque e uma grande admiração pela força da prática dos ocidentais. Em entrevista a revista Bodisatva número 22, edição verão-outono de 2011, ele declara:

“Desde o começo da década de 1960, Shunryo Suzuki Roshi era o superior do Templo Soko-ji. O Zen estava na moda e começaram a aparecer muitos hippies querendo praticar zazen. E diante daquela turma de americanos de cabelos compridos, mal cheirosos, fumando cigarros suspeitos, os imigrantes japoneses sentiam que o templo que eles haviam construído estava sendo profanado. A diretoria chamou Shunryo Suzuki para uma reunião e deu um ultimato: ”pare com isso ou será despedido”. Shunryo Suzuki fez a sua opção e respondeu assim: “ eu vim para os Estados Unidos transmitir o budismo aos americanos. Se vocês não nos querem aqui, eu fico com eles e vou embora”. Assim, Shunryo Suzuki se demitiu do cargo e fundou o San Francisco Zen Center para continuar com o seu trabalho. Cheguei em 1970, para ocupar o seu lugar, a atmosfera não era nada boa. Dentro do Soko-ji uma minoria da sociedade japonesa apoiava as posturas de Suzuki, mas a maioria se opunha. Isso criou um clima de conflito e mal estar. Costumo dizer que peguei a batata quente de Shunryo Suzuki.”

Além de substituir Suzuki Roshi, se tornou seu amigo e confidente. Moriyama Roshi esteve muito próximo de Suzuki Roshi especialmente nos dois últimos anos de sua vida. Em 1973, os serviços funerais de Shunryo Suzuki Roshi (1904-1973), foi realizado por três mestres: Renpo Niwa Zenji Roshi, Moriyama Roshi e Dainin Katagiri Roshi autor do livro “Retornando ao silêncio”.

Com relação a São Francisco Moriyama Roshi conseguia expressar seu amor pela cidade que o acolheu, de um modo único, fazendo sucesso nos karaokês mundo afora. Bastava pegar o microfone e anunciar com energia vibrante a música a ser interpretada por ele “ I left my heart in San Francisco” de Tony Bennett, uma canção clássica imortalizada pelo cantor norte americano. Sua voz, com timbre de barítono, foi afinada durante o tempo em que era estudante de filosofia e cantava em bares noturnos de Tóquio, para ganhar alguns trocados e seu ouvido foi refinado a custas de incontáveis repetições cantando sutras Zen-budistas ao longo do tempo de seu treinamento. Assim, desenvolveu um estilo descontraído e musical idêntico a de um crooner profissional e suas interpretações – falava com o corpo inteiro – são mesmo magistrais, quem teve a oportunidade de assistir sabe disto. Bastava terminar, que o karaokê inteiro vinha abaixo com as pessoas aplaudindo e pedindo bis embasbacados com aquele monge cantor. O reverendo Shogyo Gustavo Pinto, um brasileiro que o acompanhou a um karaokê no Japão, o descreve de forma precisa: “ … Mais do que isso, estávamos assistindo um one-man-show incomparável, a cantar caminhando entre as mesas e fazendo vez ou outra, piadas engraçadas com os clientes que ele mesmerizara como um encantador de serpentes.”

Após três anos residindo nos Estados Unidos, Moriyama Roshi retorna ao Japão em 1973, para novamente ficar junto a Renpo Niwa Zenji Roshi, e após seis anos recebeu o título de Shike, mestre de monastério. Apoiado por seus mestres, fundou o Templo Zuigakuin em uma região montanhosa do Japão. Zui, significa ‘ fonte de alegria religiosa’, gaku significa ‘topo’, e in significa templo”.

Zuigakuin é um pequeno templo consagrado à prática tal como ela é exposta por mestre Eihei Dogen: Zazen e Samu, isto é, meditação e trabalho – inclui também a prática de esmolar denominada de takahatsu, revivendo a tradição dos monges mendicantes. O templo é bastante austero, não há eletricidade, água encanada, telefone e aquecimento; mas é muito rico no Darma e sempre esteve de portas abertas a todas as pessoas interessadas, quer fossem japonesas ou estrangeiras. O templo é oficialmente aberto em 1978, e o Zendo concluído em 1980, neste mesmo ano é co-fundador da Associação Zen Internacional com sede no Japão.

Em junho de 1992, juntamente com Kosen Nishiyama Roshi , esteve em Saint-Agrève uma comuna situada na região de Auverge-Rhône-Alpes departamento de Ardèche na França, e participou da cerimônia de abertura do Templo Hokai-ji, conhecido como La Demeure Sans Limites, fundado pela francesa Joshin Bachoux Sensei, sua discípula e sucessora, autora do livro “Journal de mon jardin zen”.

Ainda em 1992, Renpo Niwa Zenji Roshi convoca seu discípulo a assumir novo cargo em terras distantes, desta vez na América do Sul, passa a morar na maior cidade brasileira, São Paulo, no bairro Liberdade. Moriyama Roshi é nomeado Sokan, Sacerdote Chefe do Templo Busshin-ji e representante da Escola Soto Zen para a América do Sul. Na sua gestão construiu o novo Templo Busshin-ji, visitou grupos de Zazen em cidades do Brasil, foi assim que em 1994 conheceu o Via Zen a comunidade Zen-budista de Porto Alegre. Em 1995, Moriyama Roshi deixou o cargo de Sokan e voltou para Zuigakuin, o seu templo no Japão. Durante os anos seguintes, realizou visitas frequentes ao Via Zen, até se mudar definitivamente para Porto Alegre em 2000 acompanhado de sua assistente a monja alemã Angelika Zuiten. Torna-se mestre residente e planeja construir o Mosteiro Zen-budista Internacional Dogen Zenji na área rural de Vimão-RS, em terras doadas por seu discípulo leigo Luis Afonso Peres Ramos. Além de Porto Alegre no Brasil, proferiu ensinamentos e conduziu retiros em Montevideu no Uruguai e Buenos Aires na Argentina.

Sobre seus mestres Moriyama Roshi costumava dizer:

“Na prática da vida diária precisamos sempre de um bom equilíbrio entre amplitude e profundidade. As vezes as atividades propostas precisam ser mais amplas para oportunizar que mais pessoas se sintam atraídas e participem, outras vezes mais profundas e nestas ocasiões menos pessoas atendem ao convite são aquelas que tem um interesse real na prática. Este equilíbrio é muito importante e difícil de ser conseguido, mas aprendi isto com meus dois mestres. Um deles, Hakusan Koojun, tinha um estilo restrito direcionado a prática mais profunda e o outro Niwa Zenji adotava um estilo totalmente diferente com uma prática mais ampla e abrangente, via o potencial de cada pessoa, seu talento e lhe dava oportunidade de expressá-lo e praticá-lo. Esta atitude de abertura de coração é bastante rara, Niwa Zenji foi realmente um mestre extraordinário”.

Moriyama Roshi é autor do livro “Primeiros Passos no Zen”, publicado no Brasil em 2001 pela Editora Bodigaya. Este livro é elaborado a partir de compilações de textos coletados por seus discípulos e entrevistas concedidas ao editor e tradutor Enio Burgos e no dizer deste o conteúdo expresso é parte da chamada “transmissão oral” colhidos “aos pés do mestre”.

Em março de 2005 Moriyama Roshi retorna para Zuigakuin, o seu Templo localizado em Otsuki-Shi no Japão, a fim de permanecer próximo de seu mestre Hakusan Kojun Roshi Sama, que se encontrava com a saúde debilitada e inspirava cuidados, estava enfermo e acamado, com a idade avançada de 92 anos.

A pedido de discípulos ainda realizou sua última visita ao Brasil entre 14 de novembro e 21 dezembro de 2009, para conduzir retiros, oferecer ensinamentos e participar da cerimônia de comemoração dos 50 anos do Templo Busshinji. Durante sua estada recebeu muitos convites e aceitou incluir na sua agenda oficial uma visita anual ao Brasil durante o verão, para conduzir Sesshins e oferecer ensinamentos. E dando sequência já deixou agendado seu retorno, no período de 11 de fevereiro a 15 de março de 2011, na véspera do embarque sofreu uma crise aguda de lombalgia e por recomendação médica cancelou a viagem.

Passado uma semana, no dia 18 de fevereiro, após ter pernoitado no Templo Kitijyo-in, de seu amigo Togari Sensei em Tóquio, Moriyama Roshi foi visto pela última vez ao tomar um taxi com destino a estação de trem de Shimodha, quem sabe se dirigindo para um retiro solitário na montanha. Ao perceber que Moriyama Roshi não dava notícias, Togari Sensei acionou os discípulos do Roshi , que de imediato se mobilizaram e passam a procurá-lo rastreando todas as possibilidades conhecidas. Diante do insucesso das buscas registram a ocorrência do seu desaparecimento na polícia.

Em adição ao seu sumiço sobreveio, logo em seguida, um evento de magnitude colossal em 11 março de 2011 as 15:46, hora local, que sacudiu o Japão e o mundo. Um terremoto de 8,9 pontos na escala Richter abalou a região de Tohoku no Japão, seguido de um tsunami devastador que produziu ondas gigantes. A estrutura da Central Nuclear de Fukushima I, foi atingida causando um grave acidente nuclear, deixando todo o país em estado de emergência. Um breve balanço das horas mudou tudo por ali. Inúmeras foram as vítimas e outros tantos dados como desaparecidos. Este evento só aumentou a dificuldade de encontrá-lo.

Apesar de tudo ainda havia um certo otimismo, pois na agenda de Moriyama Roshi constava um compromisso no final de março, que era celebrar uma importante cerimônia próximo a Tóquio, a expectativa foi frustrada com sua ausência, pondo fim a esperança de encontrá-lo.

Sem saber seu paradeiro, após as várias tentativas de buscas promovidas por amigos, discípulos e da própria polícia japonesa, considerada uma das melhores do mundo, em julho de 2011 o governo japonês encerra em definitivo as investigações oficiais e Moriyama Roshi é dado como desaparecido.

No dia 25 de julho de 2011, o discípulo de Moriyama Roshi, Yasuyuki Abe Tessan, postou no blog Zuigakuin, a mensagem:

Já se passaram cinco meses sem nenhuma notícia de Moriyama Roshi. Apesar de investigações, neste momento não se sabe nem as condições e nem o que pode ter ocorrido. Atualmente o templo Zuigaku-in está fechado. Quanto à reabertura do Templo Zuigaku-in e sua programação, por favor entrar em contacto com o templo Kissho-in. Aqueles que desejam praticar o zazen em meio à natureza devem se dirigir ao zendo do templo Kokenji. O monge superior do templo, Sensei Sato fez o seu treinamento com o mesmo mestre de Moriyama Roshi. O blog Zuigakuin será encerrado até o final de agosto. Para posteriores notícias sobre Moriyama Roshi, favor acessar o blog “ShibauraZazenkai.”

Seja como for a impermanência é implacável e não poupa ninguém.

O fato é que simplesmente desapareceu, jamais foi visto. E isto faz lembrar o caso de Bodhidharma, o ancestral que levou o Zen da Índia para a China, segundo a tradição, não morreu, num certo dia partiu na direção oeste e jamais retornou.

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